O gestor desligou o celular (que só atendeu durante a reunião porque se tratava de cliente importante), por um momento tirou os olhos da planilha projetada na tela e torceu o nariz. De novo?!
Já não bastam os anos que tive que aguentar clientes pedindo um “desce redondo”, uma “Havaianas”, e agora essa história de pôneis… Assim não dá! Engoliu seco, buscou em seu arquivo de clichês alguma frase repetida menos de 50 vezes no último ano, e disparou para a diretoria a primeira que encontrou, com a entonação canastrona de quem acabava de concebê-la.
Imediatamente convocou seus colaboradores mais próximos para a formação de um grupo de trabalho cuja missão seria descobrir os processos e ferramentas que resultaram nas tais ideias inimigas que insistem em impressionar seus clientes. Se possível, espionar as agências de onde as ideias saíram e copiar seus métodos. Por que não? Otimização de esforços, gente!
Do outro lado da ligação, o cliente (que jamais teria coragem de aprovar as ideias que dizia invejar) enviava email para seu superior relatando a pressão exercida sobre a agência conforme o combinado, imaginava o efeito da apresentação que faria para o board na semana seguinte, listava “issues” e “challenges” para justificar o próximo pedido de refação, e ensaiava o discurso otimista prescrito pela empresa para não desestimular os fornecedores.
Tanto num lado como no outro, os dois executivos sorriam, satisfeitos com suas atitudes, e torcendo pra que nada mais ameaçasse seus bônus até o final do exercício.
Adilson Xavier é presidente e diretor de criação da Giovanni+DraftFCB
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