segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

VEJA coloca Piauí mais uma vez no fim da fila. Vai ficar por isso mesmo?

F. Carvalho
Jornalista – professor – acadêmico de Direito
            Mais um vexame. A reportagem da Revista Veja, edição que coloca o Piauí como o pior Estado para investimentos estrangeiros, reúne elementos suficientes para ruborizar a cara dos políticos que durante séculos revezam-se no poder, com poucas mas nenhuma honrosa exceção. Provavelmente, apenas um ou outro se envergonhará, verdadeiramente, diante de uma constatação tão desabonadora. Mas, certamente, nenhum deles abrirá mão dos privilégios que ostenta, incompatíveis com os resultados pífios que apresenta nas suas funções executivas ou legislativas. Com a cara vermelha de vergonha fica o piauiense, exposto a mais um constrangimento nacional e já exaurido nas suas tentativas de demonstrar auto-estima perante os patrícios de outras plagas.
            Apenas um dos procedimentos aplicados pela Revista Veja para compor o ranking dos estados brasileiros quanto à atratividade para os investimentos estrangeiros, explica péssimo desempenho do Piauí. Diz o texto da revista: “Não foi analisado o desempenho dos governantes, mas das políticas públicas implementadas ao longo dos últimos anos”. Eis o “xis” da questão. O fortalecimento das instituições nunca passou de uma quimera vislumbrada apenas por uns poucos, vez que sequer constitui-se em causa incorporada pelos postulantes aos cargos mais elevados do Estado. Também nunca houve tal cobrança do eleitorado. Assim é que vê-se modelos administrativos passarem sem deixar um legado que valha à pena. Por último, viu-se uma campanha em que o candidato Wilson Martins(PSB) prometia dar prosseguimento ao projeto administrativo do seu padrinho político, Wellington Dias(PT). A despeito de não ser  nenhum primor modernista, a nova gestão divorciou-se cedo dos ideais de seus benfeitores e agora aponta o indicador para o passado, responsabilizando os governos anteriores pelos infortúnios estampados em letras, números e infográficos, pela Revista Veja.
            Respondendo interinamente pelo Governo do Estado, devido a viagem do titular aos Estados Unidos, coube ao vice-governador Moraes Sousa Filho(PMDB), a tarefa de espinafrar os antecessores. Nada mal se ele próprio não fizesse parte de uma casta de políticos influentes no Estado, estrategicamente aboletados há décadas nas mais poderosas máquinas estatais e para-estatais. Para assumir a governança do Estado, em sua primeira interinidade, teve que licenciar-se do cargo de presidente da Federação das Indústrias do Piauí, cargo herdado do pai que esteve por mais de vinte anos no comando da instituição, além de ter passado pelas cadeiras de deputado estadual, por cinco vezes, e de deputado federal, por uma vez.  Seu tio, Francisco Moraes Sousa(Mão Santa), governou o Piauí por duas vezes seguidas. Outro parente próximo, Alberto Silva, também dirigiu o Piauí, igualmente por dois mandatos. A primeira incursão administrativa deste último coincidiu com o chamado “milagre brasileiro” que despejou dinheiro a fundo perdido para os mais distantes rincões brasileiros. Mas o Piauí lucrou muito pouco: algumas pontes, uma barragem com suas “eclusas inconclusas”, como a inspirar uma espécie de cordel do atraso, entre outras cositas mas, sem impacto singficativo para o desenvolvimento do Piauí que hoje se revolve em pensamentos separatistas. Há quem queira passar uma linha divisória na metade da bota, criando o Gurguéia na parte de baixo.
            Num estado sem predominância do paternalismo e do personalismo não haveria necessidade do governante plantonista direcionar o seu indicador para gestões anteriores, visto que todo o esforço teria sido despreendido em virtude de programas com  paternidade difusa.  Mas como, numa reedição grosseira do passado, não há efetivamente uma política de Estado, mas uma plataforma política rubricada por um punhado de partidos, os atuais dirigentes fadam-se ao mesmo fim de terem um dedo em riste no nariz, imputando-lhes culpas. As palavras do vice-governador, nesta ocasião, são as palavras do Governo do Estado. Como manifestação oficial soaram como meras desculpas quando deveriam ter o condão de apresentar alternativa às mazelas apontadas pela Revista Veja. Ou o Piauí não tem um projeto redentor capaz de catapultá-lo a uma posição de respeito no cenário dos investimentos estrangeiros?  Faltou fundamentação. Apontar culpados não resolve o problema. O Piauí espera um projeto inteligível com o qual possa associar-se na sua autoria.
            Até quando veremos o Piauí servir de banquete aos abutres, como nesta reportagem da Revista Veja? Nossas mazelas e fraquezas ficam ainda mais latentes e vergonhosas quando narradas por uma publicação parcial e engajada que carrega nas tintas e capricha nas frases de efeito para escarafunchar nossas feridas, proclamar nossas vergonhas, dizer que somos o patinho feio da república e nos pegar pelo braço e nos colocar no fim da fila.
            Nossos governantes estaduais não são mais neófitos na função. Governam o Piauí há um ano e meio, mas parece que não têm resultados capazes de provar à Revista Veja que ela está errada.            

13 comentários:

Jairon Carvalho disse...

Belo texto, prezado F. carvalho. Parabens!!

Jairon Carvalho disse...

Parabens pelo belo texto e pela reflexão critica,objetiva, sem desconsiderar o trabalho da revista, como fazem os politicos, ao inves de mudarem, tentam desqualificar o veiculo de comunicação.
Sabemos que não somos atrativos mesmos. Basta que citemos a situação da energia eletrica, saneamento básico!!
mais uma vez parabens

nenemritinha disse...

Texto contundente. Vale esta cobrança. Não podemos condenar uma revista, embora seja sensacionalista, e sim os políticos do Piauí que sempre procuram encher nossos olhos, com palavras demagogas, quando, na verdade, não se impoem perante o governo federal, com projetos acessíveis à nossa realidade. E o povo se cala, pouco politizado.

Blog Inacabado disse...

Parabéns, bom texto...contundente e real, triste mas real....

LOUCA PELA VIDA disse...

Na campanha Moraes Souza chamava-se Zé Filho, só assumiu o nome da familia depois de eleito. Por quê? Governo do embuste. Não tem o que mostrar.Ficamos cá mais uma vez humilhados...

E pluribus unum. disse...

Ora: podemos nos lembrar nitidamente que, no Governo Lula, ele Presidente disse claramente que, dinheiro não falta, e sim, que se apresentem projetos convicentes que o Governo Federal ajuda!!! O Piauí já teve e ainda terá oportunidades. Todavia, é preciso lembrar o ditado: '...se o cavalo passar celado... eu monto!'. Assim sendo, vemos apenas alguns números aqui e acolá, proseando que o Estado cresceu nisto e naquilo. Porém, é um crescimento sem retorno para o Estado, posto que não continua nos governos seguintes. Portanto, cada cabeça a sua sentenção. Se esta revista continuar assim, quem estiver no Governo do Estado, vai dizer: 'Isso aí é intriga da oposição'. Então? O Estado cresce ou não cresce? Boa sorte meu Piauí, boa sorte!

A VEZ DO DESPORTISTA disse...

Na realidade todos os comentários anteriores não deixam de está com razão em afirmar a real situação do Estado. O texto da revista Veja mostra que enquantos muitos colaboradores desse governo enchem os bolsos e são coniventes, no Brasil existe fiscais de carteirinha e mostram a verdadeira realidade vivida pela população, promeça de palanques são muitas, agora fazer é o mais dificil, criticar é fácil, pois a culpa sempre vem do antecessor. Pasmem o antecessor dessa pandêmia toda fez muito mais do que os atuais, pois eles seriam a sequência dos projetos. Mesmo assim somos um povo batalhador e muito perseverante e acreditamos em uma mudança, ainda é cedo, pode ter jeito. Pois não esqueçam que tem retrospectiva 2012. Parabéns Carvalho pelo texto.

Raul Menezes disse...

É um orgulho para qualquer piauiense saber do potencial de seu estado nas áreas do turismo, seja ele religioso, histórico-arqueológico, ou simplesmente de lazer. Saber de seu potencial fruticultor, eólico, hídrico etc. Poderia gastar das mais diversas palavras enumerando e enaltecendo as belezas e riquezas piauienses.

Porém, é indignante para qualquer piauiense saber que tudo isso é mal aproveitado, quando aproveitado, pelas autoridades públicas que, dizem, “gerem” este belo estado. Falta competência, hombridade e honradez nas atitudes políticas de nossos governantes que a muito, devido a uma exacerbada ganância, atentam para os seus bolsos em detrimento do povo, que procuram manter ignorantes e encurralados eleitoralmente. Falta nestes um “patriotismo estadual” enquanto piauienses, para que lutem com amor por sua terra e, trabalhem visando à obtenção de melhorias de fato, fazendo assim, finalmente, o Piauí suportar o peso de grandiosos eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, com a ajuda devida do Governo Federal e, não ser novamente mostrado perante a sociedade brasileira de forma pequena.

Todavia ocorre o oposto, maculam e estigmatizam nosso estado perante o país inteiro, que nos conhece apenas, como sendo um dos estados mais pobres da federação. O povo dito “instruído” tem sua parcela de culpa, pois, não usa o sufrágio com sabedoria e, nem usa sua sabedoria para o convencimento benéfico dos menos instruídos que é quem realmente elege os integrantes de nosso governo e, a cada eleição se reelege os mesmos de antes. Muita falácia, pouca importância para com o social e poucas atitudes. Do povo, dos políticos.

Mas sejamos otimistas! Quem sabe um dia, veremos uma melhor realidade piauiense estampada na capa da revista Veja! È claro, contamos com o povo para isso. Afinal , quando o homem muda, o mundo muda com o homem.
P.S. Parabéns pelo texto Carvalho! Bem escrito!

Estely disse...

Concordo plenamente com Raul Menezes e quero ressaltar que como se houvesse um retrocesso a cada novo mandato, pois o que está em jogo são os interesse pessoais e não os da sociedade.Então, não se dar cotinuidade naquilo que é bom, nem celeridade nas pouquíssimas ações de desenvolvimento. Caso a preocupação fosse voltada para o benefícios da população, não existiria tantas disputas loucas para exercer os cargos públicos.
Ainda, gostaria de afirmar que quem deveria sentir vergonha desse ranking eram os ditos "governantes", e eu, particularmente, me sinto muito honrada em ser piauiense. Por isso, me sinto no dever de nunca perder as esperanças.
Gostaria de parabenizar F.cARVALHO pelo texto, muito boa a reflexão!

Larissa disse...

texto e idéias irretocáveis.

Dourado disse...

sou suspeito pra elogiar teu texto, mesmo assim elogio

parabéns pela estocada nesse lixo de revista q um dia li fervorosamente pensando estar me alimentando

Anônimo disse...

Texto de excelente qualidade. Retrata que o Piauí não mudou nada da era colonial onde a classe dominante se perpetua no poder embora travestida de vermelho (PT). Se não vejamos: Welington e esposa, Ciro Nogueira e esposa, Wilson Martins esposa, filho e parentes, Antônio José Medeiros e Merlong Solano Deputado e o irmão Vereador, Zé Filho e mulher, e, por ai vai, familia Paes Landin, familia Castro, isso é só do que me lembro. Tem muito mais. São estas familias que mandam no Estado e o mantem atrasado.

Profª Rozario disse...

Crítica bem elaborada, imparcial e inteligente. Parabéns ao jornalista F. Carvalho! Infelizmente a Revista Veja constatou uma triste realidade do nosso estado (Piauí), e isso so nos deixa mais tristes e envorgonhados pelos representantes políticos que temos, ou melhor, sempre tivemos!