sábado, 11 de abril de 2009

Viva a nova reforma ortográfica da Língua Portuguesa


A reforma ortográfica da Língua Portuguesa ainda não é objeto de consenso entre os seus falantes. E parece que estas diferenças serão mesmo duradouras. Até alguns respeitados gramáticos e linguistas têm se levantado contra as mudanças gráficas que objetivam unificar a escrita do Português em pelo menos oito paises. Por outro lado, outros não menos celebrados cientistas da língua benzem com suas espadas sagradas, as alterações. Esta disputa de notáveis torna a seara da gramática cada vez mais perigosa e escorregadia para os simples mortais. Difícil é ficar no meio de um fogo cruzado entre Evanildo Bechara - gramático, linguista e membro da Academia Brasileira de Letras – e Pascoale Cipro Neto, gramático brasileiro dos mais festejados.
Mas uma coisa é certa: concordando ou não, todas as populações atingidas serão obrigadas a observarem e a obedecerem os novos ditames. A questão agora é apenas de prazo. Mais tempo para uns; menos tempo para outros, mas o prazo fatal há de chegar. Embora para as regras estejam em vigor desde janeiro deste ano, nós brasileiros temos até 2012 para que todos os livros, provas de concursos e vestibulares, documentos oficiais e entre outros escritos estejam, obrigatoriamente, enquadrados nas novas regras.
Todos os outros países lusófonos também têm datas para implantação das regras unificadas, que abrangem apenas o aspecto grafico, ficando a pronúncia ao sabor da cultura e dos costumes de cada localidade. São eles: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Portugal. O mais afetado é Portugal que inicialmente posicionou-se contrário a qualquer reforma, mas que terá prazo de seis anos para adaptar-se. A pátria de Camões foi atingida, a contragosto, em 1,6% do seu vocabulário. O Brasil, entusiasta da reforma, terá que rever algo em torno de 0,5% das suas palavras.
A saraivada de opiniões prós e contrárias não tem cessado. "A unificação significaria uma economia na edição de livros, pois não seria mais necessário editar uma versão para cada idioma. Além disso, a medida serviria de estímulo para que os países da comunidade se interessassem pela literatura alheia, mais acessível e de fácil compreensão se escritas em um idioma único", afirma Bechara. Em outro flanco, dispara Pascoale Neto, durante uma palestra para estudantes, em Fortaleza: “Então, esse troço não vai acontecer, meu filho. Nunca. Esqueça isso. E os portugueses têm toda a razão do mundo. Nós é que não temos o que fazer”. Mais que esbravejar, Pascoale anuncia: só aplicará as regras da nova gramática a partir de 2012, quando serão obrigatórias.

Entre nós, se a referida reforma chega mesmo para resolver os problemas políticos e de expansão do Português, acredito que seja bem vinda. Afinal, a língua é um organismo vivo. Modifica-se no decurso do tempo, mesmo à revelia de acordos entre nações. Desde sua origem do latim vulgar, falado pelos soldados romanos, evoluindo para o galego-português, a nossa língua não parou de modificar-se dinamicamente. E, como afirma Bechara, toda evolução tem seu preço. Por ser contemporâneos dela somos os que mais sentimos seu impacto. Mas, vamos acreditar, as gerações futuras hão de agradecer.
Acompanho o professor Evanildo Bechara. A rapidez com que as informações transitam hoje em dia pode ser um fator facilitador da divulgação das novas mudanças ortográficas. Ao contrário das reformas anteriores, esta não caiu no vácuo do esquecimento, mas tem suscitado muitas discussões e dúvidas. Se os questionamentos aparecem é porque o tema vem suscitado reflexões as mais diversas. Segundo o Guia Prático da Reforma Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Editora Escala, o Portugues é o sétimo idioma mais falado do mundo. Ele vem depois do Chinês, do Hindi, do Inglês, do Espanhol, do Bengali e do Árabe. Cerca de 230 milhões de pessoas falam o Português em todo o mundo. Mesmo assim era, até o ano passado, a única língua a conservar duas ortografias oficiais. A unificação atende a um requisito político, sim. Mas a língua está a serviço, principalmente, da política no seu significado mais preciso, que é do relacionamento entre pessoas e povos.
Para os amantes da lingüística, a nova reforma ortográfica realça a clássica dicotomia saussureana langue X parole (língua X fala), onde a língua é um fato social uniforme enquanto que a fala ou discurso refere-se a um indivíduo ou a uma comunidade podendo apresentar modificações involuntárias de um grupo de falantes para outro. São as chamadas variações dialetais, indiferentes a quaisquer acordos e tratados.
Assim, sendo a língua um fato social uniforme, justifica-se a tentativa dos governos dos oito paises falantes do idioma português, de estabelecerem regras universais quanto à ortografia. No tocante à fala ou discurso é que seria inócuo sujeita-la a uma regra. Mais uma vez, Ferdinand Saussure está correto. Corretíssimo.


F.Carvalho é jornalista e licenciado em Letras Português

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2 comentários:

Dilma disse...

Excelente matéria. Parabéns! Dilma

Educação disse...

Excelente artigo. Bastante claro; seus argumentos são bastante coerentes.
Maria do Carmo.