sexta-feira, 9 de setembro de 2011

RESENHA: Teoria do Jornalismo


Capa da 2ª edição de Teoria do Jornalismo
Por F. Carvalho

PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. 2 Ed. São Paulo. Editora Contexto. 2005.
 
O livro Teoria do Jornalismo, do mestre e doutor Felipe Pena, propõe teorizar o jornalismo a partir do ideal de conjugar teoria e prática, baseando-se na produção crítica e na reflexão permanente, considerando a necessidade de coexistência obrigatória destas duas dimensões. Pena se apresenta como crítico da dicotomia teoria/prática que distingue os profissionais que se dedicam à academia e aqueles que se limitam à labuta das redações.
O autor reforça a importância da academia para a formação de jornalistas com as faculdades necessárias ao exercício de um jornalismo crítico e de serviço. Ele ressalta que nos Estados Unidos, onde o diploma de jornalista não é obrigatório, existe um alto grau de exigência, no mercado, por profissionais com conhecimentos acadêmicos na área do jornalismo.  Nos EUA, diz o livro, é exigida dos candidatos aos postos de trabalho no campo jornalístico uma formação superior, seguida de um curso de perfil prático com um ou dois anos de duração, no modelo das pós-graduações latu sensuaqui do Brasil.
Teoria do Jornalismo é o aprofundamento de um tópico da Teoria da Comunicação e objetiva contribuir para a incipiente bibliografia desta especificidade. A obra, que tem fins práticos e acadêmicos, ocupa-se de duas questões básicas: Por que as notícias são como são? Quais os efeitos que estas notícias geram. Em resumo, estes dois tópicos tratam das questões intencionais, vetores de ordem pessoal, cultural, ideológico, social, tecnológico e midiático, bem como das reações cognitivas, de comportamento e outros fatores correlatos.
Felipe Pena, o autor, afirma que não tem intenção de esgotar o assunto. Nem de proferir a última palavra sobre a Teoria do Jornalismo.Neste sentido é que ele aponta, sempre, bibliografia relacionada aos estudos apresentados, além de comentá-la, no final.
Após a sua introdução, o livro Teoria do Jornalismo é dividido em quatro capítulos. Em Conceitos e história, Felipe Pena apresenta resultados de pesquisas bibliográficas sobre as primeiras práticas do ser humano no sentido de comunicar-se, transmitindo e recebendo notícias de outras paragens, a exemplo dos viajantes antigos, ou socializando informações, opiniões ou conclusões filosóficas, como nas praças de Atena, na Grécia antiga.  Nesta etapa inicial a oralidade é o principal recurso, embora fosse associada à linguagem corporal.  Neste mesmo capítulo o autor reflete sobre o surgimento dos jornais através da evolução das gazetas, publicações de caráter mercantil que circulavam em Veneza, Itália, vendidos ao preço de uma moeda chamada gazette.
Ao referir-se ao jornalismo da atualidade, o professor doutor Felipe Pena adianta a questão do newsmaking com uma citação de Michael Kunzick: “A informação se relaciona com o presente e o influencia”.  Também cita Ricardo Kotscho, ex-secretário de imprensa da Presidência da República e autor do livro A prática da reportagem quando diz: “Qualquer assunto serve se pudermos, por meio dele, mostrarmos algo novo que está acontecendo, ainda que o tema seja batido”.
Mas a maior contribuição do capítulo inicial de Teoria do jornalismo é o enfoque discursivo que lança sobre um item sempre tratado com excessiva aridez tecnicista, que é o lead. A maioria dos jornalistas do batente vê as perguntas clássicas do jornalismo (O que? Quem? Como? Onde? Porque?) como um questionário a ser burocraticamente respondido. Sobre o lead, Felipe Pena diz que sempre ensinou estas técnicas aos seus alunos, mas com desconfiança, por considera-lo limitadordo estilo. Mas reconhece que sua invenção revolucionou a atividade jornalística em todo o mundo, impondo agilidade à narrativa factual por meio da objetividade, em contraposição ao anacrônico nariz de cera, que era uma introdução desnecessária que se fazia antes de ater-se aos fatos. O autor reconhece a contribuição do professor e jornalista João de Deus, de quem transcreve algumas variações estilísticas do modelo criado pelos americanos. Na verdade o professor citado por Felipe Pena buscou, à exaustão, identificar as variadas formas de iniciar uma narração de um acontecimento, dependendo da natureza que apresenta.
Seguir estas indicações do professor João de Deus(citado por Pena) é algo parecido com desligar o piloto automático e navegar em conformidade com as condições do tempo. Estes são os tipos de lead relacionados em Teoria do jornalismo: clássico, de citação, circunstancial, clichê, conceitual, cronológico, de apelo direto, de contraste, descritivo, de enumeração, dramático, interrogativo, rememorativo, adversativo, explicativo, apelativo e multilide. Aliada do lead, a pirâmide invertida também é estudada no mesmo capítulo.
Felipe Pena aborda ainda, de forma desatrelada, a questão dos gêneros jornalísticos. Traz à tona as sistematizações deste objeto de estudo feitas por teóricos do Brasil, da França, dos Estados Unidos e Alemanha. A obra aponta a proposta de um brasileiro para dois eixos: jornalismo informativo e jornalismo opinativo. Na primeira acepção vemos os gêneros nota, notícia, reportagem e entrevista. Na segunda, temos editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura e carta.
No capítulo Teorias e Críticas, Felipe Pena circula entre os postulados que regem a Teoria do Jornalismo, apresentando resultados de pesquisas bibliográficas e tecendo suas considerações. Relataremos aqui todas as proposições relacionadas no segundo capítulo do livro, mas comentaremos apenas três, sob o binóculo do escritor resenhado.  São elas: Teoria do espelho, Teoria do Newsmaking, Teoria do Gatekeeper, Teoria Organizacional, Teoria Gnóstica, Teoria do Agendamento, Teoria Instrumentalista, Teoria Etnográfica, Teoria dos Definidores Primários e a Espiral do Silêncio, Teoria da Nova História, Teoria dos Fractais Biográficos ou a Biografia sem Fim.
A formulação mais simplista apresentada no livro Teoria do Jornalismo é a Teoria do Espelho, segundo a qual o jornalismo reflete a realidade e que o jornalista é um mediador desinteressado. Contrariando a Teoria do Espelho, o autor apresenta a Teoria do Newsmaking, premissa segundo a qual o jornalismo ajuda na construção da realidade por meio dos enunciados que resultam em formações discursivas capazes de mover as pessoas. Parecida com a Teoria do Newsmaking, destacamos outra classificação apresentada neste livro de Felipe Pena, a Teoria do Agendamento, também conhecida com Agenda Setting. Vista por este prisma os teóricos identificam nos veículos de comunicação de massa o poder de agendar as conversas e influenciar na agenda pública, conforme Walter Lippman, citado por Pena. Os comentários do autor a respeitos das teorias pontam para um jornalismo reflexivo e consciente das suas propriedades.
No terceiro capítulo, Tendências e Alternativas, o professor Felipe Pena discorre sobre os caminhos que o jornalismo trilha na atualidade e suas projeções para um futuro próximo. Os itens abordados nesta unidade dão uma ideia da visão do autor: Jornalismo de Resistência, Reportagem Assistida por Computador, Jornalismo Digital, Jornalismo Comunitário, Correspondentes em Guerra, Jornalismo Investigativo, Imprensa Universitária e Jornalismo Científico. Por fim, ele apresenta o capítulo A construção do jornalismo como área do conhecimento humano, no qual confronta as opiniões dos teóricos portugueses Nelson Traquina e Jorge Pedro Sousa. O primeiro ainda não acredita numa teoria unificada do jornalismo, enquanto o segundo vê as condições ideais para isto. A discordância deles está na (in)compatibilidade entre dois pólos: um jornalismo ideológico e de serviços e outro voltado para os interesses econômicos. Felipe Pena encerra a parte textual do livro opinando sobre a incoerência que reside na dicotomia existente entre a teoria do jornalismo e a prática. “Teoria e prática caminham juntas. O trabalho interligado é a única forma viável de discutir nossas questões profissionais”, afirmou.
O autor escreveu Teoria do Jornalismo em primeira pessoa, contrariando suas práticas redacionais em livros anteriores. Prefere fazer desta forma para tornar a leitura mais fácil, se contrapondo ao estilo rigoroso comum nos livros acadêmicos. Ele diz não entender como os círculos acadêmicos gostam do sujeito “nós” nos textos, a despeito de conceitos como intertextualidade e obra aberta.  Ele argumenta ainda que a escolha da primeira pessoa é devido à apresentação de experiências próprias no labor jornalístico e acadêmico, embora esclareça que não tem a intenção de ser auto-referente.  “Apesar de escrever na primeira pessoa do singular, acredito piamente na produção coletiva do conhecimento”, complementou.
O livro apresenta um texto leve e original e que trata de temas novos e outros recorrentes no cenário acadêmico. Trata-se de um trabalho indispensável a professores, estudantes de comunicação social e, claro, aos profissionais que trabalham nas redações de jornais, rádios, TVs, revistas e qualquer meio de comunicação para a massa. A sistematização do tema e a citação de diversos teóricos consagrados no meio universitário dão à obra uma densidade capaz de validá-la com significativo realce.
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OBS.: Resenha escrita por F. Carvalho como parte da disciplina Metodologia da Pesquisa Científica, no curso de pós-graduação em Comunicação: Jornalismo. A obra resenhada ficou a critério do aluno.

Um comentário:

Valdênia Santos disse...

Me empresta o livro agora! hehehhe... A resenha está boa querido! Deus me dê coragem para estudar!