quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um poema engajado de Danilo Melo

Danilo de Melo Sousa é um poeta de múltiplas facetas. Numa página podemos vê-lo referenciando, entre versos, a mulher amada e noutras tecendo considerações sobre amigos, épocas, idéias... Entre tantas coisas que ele faz com estilo está a poesia engajada.

Mais que poemas, podemos ver poesia nas suas linhas de fina irreverência e humor discreto, porém cortante. Deste parnaibano ilustre, folheio esses dias, o livro “(In)certos versos e alguma (p)rosa” que ele mesmo me presenteou, autografado, por ocasião do II Salão do Livro de Parnaíba(Salipa), do qual foi um dos mais prestigiados palestrantes.

Divido com os leitores do meu blog, o poema “Honra ao mérito”, que figura na sua vasta produção com temas engajados. Chama a atenção o trocadilho que faz entre o verbo “poder” e o adjetivo “podre”.



Honra ao mérito
Você fez o que podre
retalhou a África
Você fez o que podre
viciou a China
Você fez o que podre
varreu as minas do peru
Você fez o que podre
jogou Napalm na Indochina
Você fez o que podre
tirou a pátria dos curdos
Você fez o que podre
matou as crianças do Chile
Você fez o que podre

Grande é o teu mérito
Civilização vencedora!
um bilhão de cadáveres te contemplam!!

A mente de um poeta é repleta de escaninhos inacessíveis. Daí ser muito arriscado afirmar com precisão a que ele se refere no poema “Honra ao mérito”. Identifico nele uma crítica feroz a práticas colonialista e outras formas de dominação, responsáveis por grandes degradações e dizimações no planeta.

Texto: F.Carvalho, jornalista e professor de Língua Portuguesa



Nenhum comentário: