quinta-feira, 12 de junho de 2008

O BECO DO LIXO

O poema “O Beco do Lixo”, de Alcenor Rodrigues Candeira Filho, enquadra-se perfeitamente no Modernismo ou, para ser mais preciso no Pós-Modernismo. Exacerba-se neste escrito poético, o sentimento do eu lírico inconformado com as mazelas sociais. De forma irreverente, o artista não só expõe problemas sociais de sua época como também lhe mete o dedo como a escarafunchar uma ferida podre. O poema é dividido em duas partes com semelhante estrutura. A primeira parte tem duas estrofes e a segunda, uma estrofe, sendo todas elas brancas, mas ricas em aliterações conferindo musicalidade e um ritmo interno que chega a ser frenético e melodioso.
A disposição gráfica facilita a leitura por serem os versos curtos e desprovidos de adereços num esforço para melhor encandeá-los. A principal figura de estilo encontrado é a metáfora, onde o beco é um microcosmo que representa a sociedade. O bicho é a representação do homem, animalizado na sua luta diária pela sobrevivência num ambiente de franca hostilidade que, aos mais fracos, reserva a sarjeta.

O BECO DO LIXO

1

Já viste o Beco do Lixo
Onde o bicho
Só come
À falta de outra comida
Bosta e vômito
E depois não vomita
Para não morrer de fome?
Já viste o beco do lixo
Onde o bicho
Se esconde
Da vergonha
de ser bicho?

Pois o beco do lixo
(que não tem outro nome)
É um beco
sem marmita
um grande beco
sem saída
onde a vida
é um beco
que dá fome.

2

No beco do lixo
Onde o bicho
não come
mas engole
detritos
sem ais e sem gritos
para não morrer de fome
não há lágrimas nem dó
mas há nó
na garganta
mas há nó
no estômago
mas há nó
na alma
tudo em forma
de náuseas
de náuseas e... só.
No Beco do lixo
Que não é um beco qualquer
Mas um beco sem outro nome
E maior que pensa o homem
Está bicho de carne e osso
Como outro bicho
Qualquer
Sem esperança no homem
Que come
- e mata a fome –
Na hora que quer.

Nenhum comentário: